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MARCELA GONTIJO

Parque_Guinle.jpg

OUTOS POSSÍVEIS SÃO POSSÍVEIS
Curadoria: Felipe Scovino
agosto/2010

Entre dissoluções e aparições a obra de Marcela Gontijo, nessa exposição, é o resultante de um paradoxo: parte de uma desconstrução para a criação de um acontecimento poético regido por uma alta potencialidade. No recorte e união de fragmentos de fotografias, a artista constrói uma nova paisagem. Com esse procedimento, põe em dúvida o nosso olhar e percepção sobre o que significa esse campo chamado paisagem. Não devemos, portanto, aguardar por algo representativo do real, mas poesias reveladoras de um lugar ou tempo que permanecia a margem, e que na sua aparição ao mundo resulta em potência e se insere como marco de investigação no trabalho da artista. Em um mundo saturado de imagens (efêmeras), Gontijo através de uma técnica usual e aparentemente simples nos revela e acentua a sua diferença num ambiente mergulhado em imagens do que deveríamos ser para tornarmo-nos felizes, mais bonitos ou bem-sucedidos. 

 

A construção de Gontijo não diz respeito apenas a fragmentação e união de partes distintas, que nesse embaralhamento imagético criam um aspecto de paisagem, mas a criação de uma figura geométrica que constitui o plano onde essas dissoluções ocorrem. São, portanto, dois campos de experimentação para a colagem abstrato-geométrica da artista. Esta modalidade de ocupação nos faz supor como Gontijo lida com espaços construídos, com certas hierarquizações e condições de modelos pré-estabelecidos, com nossos hábitos espaciais que acabaram conduzindo a um resultado surpreendente: o que pode parecer exercício formalista, na verdade constitui-se em uma atividade critica plena de significados, a ênfase é dada não as formas em si, mas ao significado da organização plástica. Seu método de ocupação plástico desorganiza, desconstrói a ordem estabelecida, evidenciando que está oculta algo que reprime. 

 

Gontijo cria um espaço que deixou de ser lugar de representação para se tornar ambiente de ação. Portanto, essa vontade de subverter se confunde muito com uma vontade de ficar indiferente aos movimentos do mundo. Nesse anseio, a artista inaugura uma família de ideias novas. Não e mais uma ideia que se acrescenta a quantidade de ideias no mundo; mas uma ideia que duvida de todas as outras ideias. Estamos diante de uma produção que possui uma espécie de elasticidade orgânica que a impulsiona no sentido da produção de novas formas, há uma compulsão a proliferação: a narrativa de suas obras não se esgota, se desdobra. 

 

Felipe Scovino

curador

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