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TINHO

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QUEM ME NAVEGA É O MAR
Curadoria: Marcus de Lontra Costa
novembro/2018

Não sou eu quem me navega,

 Quem me navega é o mar

Timoneiro, Paulinho da Viola

A pop trouxe de volta ao cenário artístico certas representações desprezadas pelo modernismo. Ao valorizar as chamadas vanguardas negativas, os jovens artistas de então recuperaram a figuração, estabeleceram novas relações entre a arte e o mundo industrial através da estética da publicidade e da comunicação. Se, até então, as pesquisas artísticas investiam em conceitos relacionados com a vanguarda e com isso alimentavam, posteriormente, o mundo da publicidade e da comunicação, a partir dos anos 60 essa relação passou a funcionar em mão dupla, num diálogo de reciprocidade. Meio século depois a chamada arte contemporânea incorpora essas situações com desenvoltura tendo a heterodoxia como referência formal, teórica e instrumental. Assim, os antigos espaços de divulgação de cada esfera da visualidade, tão bem organizados no mundo moderno, se contaminam pela interferência de atores e comportamentos distintos, valorizando a diversidade como fonte principal de descobertas do saber.

Enquanto o sistema oficial da arte buscava a produção de artefatos artísticos comprometidos com a história da arte ocidental e justificados por conceitos de origem filosófica, o muralismo espontâneo, o grafite, a arte de rua (ou street art como prefere alguns) parte de procedimentos baseados na comunicação, na manipulação de elementos figurativos identificáveis e na elaboração de mensagens reconhecidas que são identificadas pelo espectador  provocando-o através de dissonâncias e surpresas. Esse diálogo entre as áreas, entre esferas institucionais distintas, entre o público e o privado, entre a visibilidade coletiva e o sistema tradicional de museus e galerias, permite que atores qualificados circulem entre eles, criando novas adequações de mensagens a públicos e situações diferentes. Tal permeabilidade possibilita o surgimento de nomes destacados da arte internacional que flertam com o mercado como, no caso brasileiro, Kobra e Os Gêmeos, e na esfera internacional os famosíssimos Basquiat e Bansky.

 

No Brasil alguns artistas oriundos da street art e da visualidade popular a cada dia mais se afirmam no cenário artístico contemporâneo. Esse é o caso de Tinho, que elabora trabalhos de forte impacto visual associando com precisão informações diretas oriundas da pop art com cenários impactantes, metáforas de mundo no qual convivem o fantástico, o onírico, o real e a técnica impecável. A obra de Tinho é esse caldeirão de informações: Japão e América Latina, centro e periferia, mangás, comics que abraçam vigorosamente referências artísticas e eruditas. As obras apresentadas por Tinho nessa exposição têm como tema os mares de brinquedo e integram um audacioso projeto do artista sobre os  "7 Mares" que devem ser compreendidos como elementos oriundos da reminiscência. Persiste, nesse jardim das delicias que Tinho elabora, uma curiosa estratégia de confronto, uma dialética que perpassa o tempo e suas informações. Os seus bonecos, retalhos de pano que aludem à artesania e à precariedade, são estranhamente humanos e se apresentam com um "éclat" tecnológico apaixonante e provocador. Eles entram em contraponto às suas figuras humanas, nas quais se insinua a presença de algo não humano, uma máquina, um fantasma, um mistério, quem sabe cyborgs? Na verdade essa estratégia do artista encontra eco em vertentes artísticas iniciadas por Bosch, nas delirantes cenografias de Eckhout passando por Rousseau, Salvador Dali entre tantos. Os mares de Tinho falam de uma infância perdida, Rosebud que arde ao fogo de nossas memórias mas que também incorporam com precisão a perversidade de uma infância não visitada, de uma ternura cruel, beleza trágica. Assim são os mares bravios de Tinho, assim são os caminhos da arte repletos de esfinges, de desertos e de descobertas que somente o aventureiro pode encontrar. Para isso, é preciso encantar-se.

"Navegar é preciso, viver não é preciso".

Marcus de Lontra Costa

curador

PARCERIA GALERIA MOVIMENTO E INSTITUTO DA CRIANÇA

 

Durante a exposição o público foi convidado a interagir doando brinquedos que deram forma a grande instalação MAR DE BRINQUEDOS. Foram arrecadadas mais de 700 unidades que foram doados ao INSTITUTO DA CRIANÇA  e fizeram a alegria de diversas crianças no Natal.
Obrigado a todos que contribuíram com este mar de solidariedade!

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