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GRAZIELLA PINTO

Com Bernardo na praia.jpg

SUA NATUREZA
Curadoria: Catia Kanton
maio/2018

A mais contundente busca no percurso de Graziella Pinto é a da autenticidade. E sua palavra de ordem é a união. Trata-se de uma certa constatação de que o mundo é redondo, de que a vida circula e de que estamos todos juntos, afinal. Pois foi pensando e sentido assim que sua obra assumiu a forma redonda como metonímia. E bolas, esferas, círculos passaram a aparecem consistentemente em suas pinturas, colagens, e nas intervenções que realiza no espaço tridimensional.

 

Ainda que o tema central tenha sobrevivido ao longo dos anos, nessa fase recente Graziella se permite um discurso de teor ainda mais pessoal. As telas de fundo rosa, as sementes que marcaram a infância, as bolas feitas em cachos, tudo aqui se aproxima de um diário afetivo e uma homenagem à memória. Desse modo, a natureza do título assume a densidade que lhe é devida: se por um lado evoca as plantas, brotos e frutos retratados nas obras, por outro lado, desvelam a própria condição da artista de se entregar a escolhas estéticas intimistas.

 

Como ela própria explica, o rosa traz consigo um desejo de amorosidade e também alude à terra, ao órgão uterino e ao feminino cuidadoso. Essa cor de fundo recebe os frutos, as plantas e as sementes. A relação aqui se estabelece na transformação simbólica da tela bidimensional num campo energético rosado que acolhe e prepara essas sementes para a fecundidade e o crescimento.

 

Não é à toa que bananas, cerejas, vagens aparecem em cachos. Novamente surge a alusão ao coletivo, à vida que pulsa e convive. À menção de que estamos todos juntos.

 

Resta dizer que a escolha das plantas retratadas não é aleatória. Graziella pinta o que seu coração enxerga, nas lembranças de longas temporadas vividas com a família na praia. Cada uma das espécies ganha acolhimento na cor rosa e é alimentada por um desejo de transformação pessoal, pautada na simplicidade. As formas escultóricas também seguem esse caminho. São cachos de bolas trançados e construídos manualmente, num tempo que se relaciona com o brotar de uma semente. Eis a natureza do que propõe o percurso da artista.

 

Catia Kanton

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